segunda-feira, 17 de maio de 2010

ARGUMENTAÇÃO

Observe, agora, o trecho a seguir.

Nada me impressiona mais nos Estados Unidos do que a revolução da informação. Nenhuma comunidade do planeta tem tanto acesso a qualquer tipo de dado: à frente de um computador, um aposentado de uma pequena cidade do interior, por exemplo, é capaz de salvar a própria vida consultando um médico on-line.

Por isso mesmo, poucas coisas me impressionam mais do que o nível de ignorância no país. O governo federal está colocando, agora, essa ignorância em números – e também está chocado. Um teste nacional sobre história americana, aplicado a 22 mil alunos, acaba de recolher um monumental besteirol. Talvez porque as escolas sejam ruins; talvez porque os pais não se sintam educadores; ou talvez porque eles passem muito tempo na frente da televisão assistindo a lixo – exatamente como no Brasil. [...]

Claro que o Brasil não é exceção. Uma pesquisa DataFolha revela as seguintes pérolas de paulistanos acima de 16 anos: 61% não sabem qual é a capital do Rio Grande do Sul; 18% apontaram o México como país vizinho; 92% não sabem dizer quantos estados tem o país. Esses fatos apenas mostram que não se deve cair na armadilha do deslumbramento tecnológico; de pouco adianta gerar informação sem conhecimento crítico do mundo em que se vive. O que isso gera, de fato, é a ignorância informatizada.

Gilberto Dimenstein, Aprendiz do Futuro – Cidadania hoje e amanhã. Ática, 1997.

Você deve ter percebido uma diferença em relação ao exemplo da exposição: o texto acima não se limita a expor uma ideia, ele procura convencer o leitor a respeito dela. Que ideia é essa? A de que não basta ter acesso à informação, é preciso saber o que fazer com ela, isto é, gerar conhecimento a partir delas. E para convencer o leitor disso, o texto lança mão de determinadas estratégias, como a apresentação de exemplos, dados estatísticos. O autor, portanto, apresenta argumentos para persuadir o leitor de que sua visão sobre algo é verdadeira. Temos um texto argumentativo.

Desde a Antiguidade, diversos estudos têm destacado que a interação social por meio da língua é caracterizada, basicamente, pela argumentatividade. Argumentar é um processo que consiste em explanar, interpretar, ordenar, justificar, relacionar ideias. Através dessas operações, o argumentador busca formar a opinião do leitor/ouvinte, convencê-lo a aderir a um determinado ponto de vista, a tomar partido em um conflito ou escolher um curso particular de ação.

Encontra-se esse procedimento argumentativo em textos que buscam a persuasão, o convencimento, a adesão de quem lê/ouve. A argumentação é um discurso de base que fundamenta textos nos quais se apresenta uma tese que o autor deseja que o leitor/ouvinte aceite. Textos publicitários, matérias opinativas e editoriais, cartas de leitores, entre outros tipos de textos que circulam no meio social, são construídos em torno da exposição de uma tese – a ideia a ser compartilhada – e da apresentação de argumentos que levem o interlocutor a aceitar o posicionamento de quem produz o texto ou a realizar determinada ação.

Para a produção de um bom texto argumentativo, é condição básica a apresentação clara de uma tese e a sua fundamentação através de argumentos necessários e suficientes para o engajamento do leitor/ouvinte. Para convencer, o escritor deve deixar clara qual é a sua opinião. A construção do texto deve, explícita ou implicitamente, evidenciar qual a posição tomada em relação ao tema abordado.

Outro aspecto importante que deve ser considerado na construção de um texto argumentativo é evitar as generalizações, afinal, é sempre melhor mostrar do que simplesmente declarar. É necessário também que o texto apresente de fato argumentos. Conforme Othon M. Garcia[1], “argumentar é, em última análise, convencer ou tentar convencer mediante a apresentação de razões, em face da evidência, das provas e à luz de um raciocínio coerente e consistente.” (1988, p. 370)

Assim, os argumentos constituem as “provas” de que o produtor provê seu texto para persuadir da exatidão e pertinência de sua tese. Por provas entende-se a apresentação de fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos, apresentação de causas e consequências, recursos que constituem a evidência do que se declara.

Linguisticamente, o texto argumentativo caracteriza-se pela:

ü progressão lógica de idéias e linguagem objetiva, denotativa;

ü presença de palavras valorativas (positivas e negativas) e expressões modalizadoras que manifestam o posicionamento do falante;

ü emprego de orações subordinadas adverbiais causais, introduzidas pelas conjunções visto que, pois, porque, para a apresentação da relação de causa-consequência;

ü emprego de perguntas retóricas, antecipando possíveis questionamentos por parte do interlocutor;

ü presença de várias vozes que se integram ao texto por meio de citações, menções e/ou referências textuais, funcionando como apoio para a argumentação, e os sinais de pontuação que introduzem tais vozes (dois-pontos, aspas, travessões).



[1] GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna. 14. ed. Rio de janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988.

5 comentários:

  1. Muitas pessoas têm a ilusão de que estando na frente do computador estão bem informadas, no entanto, pesquisas afirmam o contrário.
    Acontece que grande parte das pessoas utiliza os meios de informação apenas para entretenimento, ou seja, acessar o orkut, msn, assistir novelas. Ao invés de utilizar esses meios para acrescentar o conhecimento crítico, informando-se a respeito do mundo, através de jornais, revistas, enciclopédias, entre outros.
    Com base no que foi exposto acima, conclui-se que as pessoas devem reeducar-se para usufruir melhor dos meios de informação.

    Jociele e Neimar

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  2. Mauricio S. Araujo
    tsi

    O autor argumenta que apesar do avanço técnológico, as pessoas estão cada vez mais ignorantes em relação a cultura, história e assuntos gerais.
    De certo modo concordo com o autor, é fato conhecido que os americanos são alienados em relação a assuntos gerais, raramente sabem sobre outros países, e do seu próprio desconhecem muitas coisas. No Brasil também vemos esse quadro, diversas reportagens já foram feitas mostrando o quanto o brasileiro é um povo desinformado.Mas em relação a opinião de que tal fato está relacionado com o aumento da técnologia, e não concordo plenamente, pois todos tem a mesma condição de ver televisão por exemplo, porém nem todos são ignorantes, isso independentemente do sua situação econômica.Na minha opinião tal situação de se ter um povo alienado vem muito por causa da criação dada pelos pais, e pelos valores passados ao0s filhos.

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  3. Nos dias em que vivemos podemos dizer que as pessoas tem acesso á uma grande quantidade de informação, mas não sabem usá-la corretamente.
    As pessoas tem usado a tecnologia disponivel para coisas sem grande importância,"bobagens" digamos assim, tempo que poderiam usar para aumentar seus conhecimentos e assim se tornando individuos mais cultos.
    Assim concordamos com o autor que as pessoas em geral não tem se preocupado em adquirir conhecimento geral sobre acontecimenots mundiais.

    Kamila Garcia e Patricia Farias

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  4. É impressionante como a nova geração esta dependente das tecnologias, crianças e jovens passam cada vez mais tempo de suas vidas em frente de um computador.
    Muitas vezes fazendo coisas inúteis como jogando jogos que estimulam a violência, ou ate mesmo visitando sites inadequados.
    Contudo, não se pode negar que existem pessoas que utilizam das tecnologias para obter novos conhecimentos, ou então para se manter atualizado de notícias que “rodam” o mundo inteiro em poucos segundos.
    Como se pode perceber a tecnologia pode nos proporcionar um grande conhecimento, porém se usada de forma errada pode acarretar problemas futuros.

    Juliana Kaster

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  5. O uso inadequado da tecnologia é algo cultural, não está relacionado à evolução da mesma.

    O Japão está no topo do desenvolvimento tecnológico e nem por isso a população despende seu tempo com assuntos sem importância. Desde pequenos os japoneses são ensinados a estudar bastante e procurar crescer profissionalmente.

    Na Europa, também há uma educação diferente. Lá as pessoas leem e se interessam muito mais por assuntos como arte, literatura, política..

    Entretanto, a realidade do Brasil não é essa. A maioria da população assiste novela e/ou Big Brother. É impressionante como em apenas uma noite de votação para escolha de qualquer superficialidade deste programa, a rede Globo consegue reunir milhões de votos. Os mesmos que não são obtidos para aprovação de algum projeto de lei.

    Lamentável..

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