terça-feira, 27 de agosto de 2013

E-mail: Comunicação eficiente



A seguir, apresentamos a reprodução de uma reportagem do caderno Empregos e Oportunidades do jornal Zero Hora, com um teste sobre o uso do e-mail.

Você é um e-mala? 
Faça o teste e descubra se você usa bem o e-mail ou só incomoda os colegas


O e-mail se transformou na principal ferramenta de comunicação do século 21, a ponto de ser quase impossível imaginar um profissional trabalhar sem ele. Apesar de fazer parte do nosso dia a dia, são poucas as pessoas que têm bons hábitos para lidar com suas mensagens e também com as que são enviadas para os outros.
Será que você utiliza bem o seu e-mail? Faça o teste que está aí abaixo e descubra se você é um "e-sperto", ou seja, um sujeito que sabe utilizar uma ferramenta para facilitar e melhorar o seu trabalho, e ainda ajuda os outros a aproveitarem esse recurso, ou um "e-mala", que não tem boas práticas e ainda atrapalha os colegas com mensagens desnecessárias.

Responda as perguntas conforme a escala [de pontos] abaixo
  1. Nunca
  2. Raramente
  3. Às vezes
  4. Quase sempre
  5. Sempre
 1. Tenho menos de 25 e-mails na minha caixa de entrada atualmente.
2. Tenho um modelo de organização de pastas eficaz, que me permite localizar qualquer e-mail em menos de três minutos.
3. Escrevo o assunto do e-mail por último, logo após reler o conteúdo da mensagem, de forma que este sintetize o texto redigido.
4. Tenho o hábito de, ao ler o e-mail, já formar alguma ação imediata (responder, apagar, criar uma atividade, etc.) e o remover da caixa de entrada.
5. Costumo escrever e-mails de forma direta, objetiva e concisa, evito múltiplos assuntos na mesma mensagem.
6. Nunca respondo com cópia para todos um e-mail que recebo com algum tipo de informação ou convocação.
7. Evito enviar anexos nas mensagens e, quando necessário, envio com tamanhos reduzidos.
8. Quando escrevo e-mails me importo com o tipo de fonte e o tamanho e dou preferência para fontes do tipo arial ou verdana.
9. Sempre especifico no e-mail enviado a ação a ser feita pelo destinatário da mensagem, para ele saber o que fazer com o mesmo.
10. Tenho paciência para escrever o e-mail detalhadamente, de forma que fique bem claro o que precisa ser entendido, em vez de escrever e-mails mais curtos e que nem sempre são claros para quem os recebe.
11. Evito usar aqueles avisos de recebimento e confirmação de leitura em meus e-mails.
Some os pontos e veja os resultados
 Até 25 pontos - Você é um e-mala
Aparentemente, você tem dificuldades ou hábitos ineficazes para lidar com seus e-mails, o que pode estar consumindo boa parte do seu tempo nessa atividade. E-mail é algo que, quando mal usado, consome não apenas seu tempo pessoal, mas também o de outras pessoas.
É preciso que você reserve um tempo para organizar sua caixa de entrada, responder os e-mails pendentes ou até pedir ajuda para alguém ensinar dicas e truques do seu software de e-mail. Evite também ficar com seu e-mail aberto sempre, tenha horários, e quando for lidar com suas mensagens, crie uma ação com cada uma que você ler, mas não as deixe paradas na caixa de entrada.

De 25 a 40 pontos - Você precisa melhorar
Você não é um "e-mala pleno", no máximo, um estagiário. Tem algumas boas práticas para lidar com seus e-mails, mas às vezes utiliza o recurso de forma improdutiva.
Para não enveredar de vez pelo mau caminho, uma boa estratégia é pensar na sua caixa de entrada como uma lista de coisas a fazer. Cada mensagem exige uma providência (ser armazenada em uma pasta, respondida, deletada, transformada em ação). Com isso, a pasta estará sempre vazia ou com poucas pendências. Fique atento também à forma como envia suas mensagens: seja objetivo, conciso, copie a todos só quando for extremamente necessário, e de preferência na cópia oculta. E nunca repasse correntes. Fazendo isso, você será promovido a "e-sperto".

Acima de 40 pontos - Parabéns, você é um e-sperto
O resultado do teste indica que você está conseguindo lidar bem com suas mensagens eletrônicas. Pesquisas mostram que, em média, o brasileiro gasta três horas por dia para ler, organizar, responder e armazenar e-mails. Para quem tem boas práticas, essa estatística pode cair pela metade.
Obviamente, alguns dias são mais complicados e os e-mails acabam se acumulando, mas, se você tiver o hábito, rapidamente voltará ao padrão adequado. O e-mail é um processo de conscientização, não adianta apenas você ter bons hábitos se as pessoas ao seu redor não tiverem. Por isso, ajude os "e-malas" a sua volta a começarem a utilizar melhor o e-mail. Indicar este teste pode ser o começo.

Zero Hora, 3 fev. 2008.
 O e-mail é uma importante ferramenta de comunicação no mundo profissional. 
O texto a seguir apresenta uma série de dicas para obter uma comunicação eficiente por e-mail no ambiente de trabalho.
 
Os dez mandamentos do e-mail

1. Quando usar

2. O esquecimento da identificação

Um grande vício de quem se acostumou a usar a internet a partir de chats e outros sistemas de mensagens instantânea é se esquecer de identificar-se ao escrever um e-mail, tanto no início do contato quanto no fim, ao deixar de assiná-lo. Ruy Leal, o Instituto Via de Acesso, considera isso um dos maiores problemas dos jovens que desejam ingressar no mercado de trabalho.

                - Já recebi e-mails sem assinatura pedindo um estágio. Eles têm coragem de usar um endereçamento de e-mail que não tem a ver com o meio corporativo, do tipo ‘luluzinha17@...’, para pedir um emprego – diz. É vital assinar um e-mail e, em um primeiro contato, não se esquecer de explicar no início quem você é. Mesmo que não seja pedido, confirme o recebimento da mensagem, até quando não tiver resposta completa no momento. Um “ok” ou “recebido” mostra disposição.

3. Atenção ao assunto

O campo do assunto deve refletir o conteúdo da mensagem.

                -Muitos não têm essa noção. Você tem de chamar a atenção da pessoa na caixa de entrada, porque ela recebe vários e-mails por dia e vai determinar o grau de urgência de cada um ao olhar para os assuntos – conta Regina, que diz receber por vezes e-mails em que o remetente coloca, no campo do assunto, o nome da empresa em que trabalha.

                Uma dica é escolher palavras-chave que resumam o conteúdo do e-mail em cerca de três a quatro palavras. Em vez de “Segue relatório de vendas referente ao ano de 2012”, por exemplo, é melhor: “Relatório vendas 2012”.

                No entanto, é preciso ser específico e fugir de generalidades que pouco esclarecem sobre a mensagem, como apenas “Relatório”.

4. O cuidado com as saudações

O e-mail é uma situação de comunicação, e precisamos saudar as pessoas quando nos dirigimos a elas. No início de um e-mail, “olá” e “bom dia” são cordiais, sem serem informais demais, explica Regina. “Prezado” é extremamente formal e, se não for um caso de rígida impessoalidade, é exagerado. A regra, segunda a especialista, é que, se existe uma troca de e-mails com certa regularidade no dia, o primeiro deve conter a saudação, que pode ser dispensada nas outras mensagens.

                Os cumprimentos de despedida são igualmente importantes, e não são substituíveis por uma assinatura eletrônica. Mas Regina alerta: “Atenciosamente” é abreviada de forma incorreta no Brasil como “att.”, quando deveria ser “atte.”.

                - “Att.” foi importado do inglês e faz referência à expressão in attention to, que é usada só no começo de um e-mail – explica.

                “Cordialmente” é considerado também exageradamente polido, a ser usado em casos específicos. A sugestão de Regina é que, ao escrever a mensagem, pensemos na maneira como saudaria a pessoa se a encontrássemos frente a frente, e adequemos os termos a isso.

5. A falta de objetividade

Ruy Leal observa que um sério problema dos e-mails trocados atualmente é o risco de gerar desentendimentos por serem confusos. Por isso, dá a dica:

                - Coloque-se no lugar da pessoa que está do outro lado. Ela entenderia a mensagem? – questiona o consultor.

                A experiência com cursos sobre e-mail para empresas fez com que Regina concluísse que o maior desafio do brasileiro com essa ferramenta é conseguir ser objetivo.

                - Por uma questão cultural, damos voltas para falar as coisas em vez de ir direto ao ponto – diz Regina.

                É recorrente, ela explica, que as pessoas comecem explicando o que querem dizer antes de, de fato, comunicar o assunto principal da mensagem, quando deveria ser o contrário.

                - Se eu vou dizer por que o relatório não está pronto, é comum querer explicar tudo o que aconteceu para ele não estar pronto para então, no fim, dizer “Então, o relatório não está pronto”.

                Isso acontece, segundo Ruy, porque muitas pessoas não sabem como estruturar um texto.

                - Não sabem começar, avançar e terminar de forma compreensível pelo receptor.

6. O calibre da formalidade

É fundamental compreender as regras do ambiente de trabalho para saber que tom se pode adotar com o interlocutor. Alguns escritórios exigem mais ou menos polidez no tratamento. Regina observa que existem dois tipos de profissionais trabalhando juntos hoje: os mais velhos, que vêm do que ela chama de “a era da circular”, em que toda a comunicação se concentrava nas mãos das secretárias e eram muito mais formais, e aqueles mais jovens, acostumados com a informalidade das mensagens instantâneas.

                A linguagem do e-mail deveria transitar entre esses dois mundos, sem exagerar com uma comunicação impessoal, mas obedecer à norma culta de uma maneira cordial, descontraída, como se falaria em geral por telefone ou pessoalmente. Um cuidado importante é não exagerar na formalidade a ponto de a mensagem soar ríspida demais, o que pode causar ruído na comunicação.

7. O uso de abreviações

Abreviar palavras deve ser evitado, embora não seja proibido e, ocasionalmente, possa ser usado nos e-mails profissionais, especialmente nas saudações. A economia de tempo ao encurtar as palavras é pouca, e a mensagem pode tender a uma informalidade excessiva.

                Luiz Castro, professor da rede estadual de Pernambuco, mestre em linguística e pesquisador da UFPE no campo da comunicação digital, realizou um estudo sobre os tipos de risos existentes no internetês, desde os mais escandalosos, como o “kkk” e o “huahuahua”, passando pelo “hahaha” até o “rs", abreviatura de “risos” que, segundo ele, é o mais aceitável em uma troca de e-mails profissionais. Ele sugere que a pessoa escolha poucas palavras para abreviar, e não use esses atalhos o tempo todo.

8. A aversão a maiúsculas

O uso de caixa alta em todo o texto é tão proibido que, para Regina, constitui uma verdadeira gafe. Escrever em maiúsculas significa, na linguagem da internet, gritar com alguém. Por isso é algo realmente a ser evitado, especialmente em mensagens de trabalho, pois é visto como falta de educação e de consideração do remetente, além de não ser uma postura profissional adequada.

9. A adequação do tamanho

Não há regras quando o assunto é o tamanho que um e-mail deve ter, mas a experiência mostra que e-mails longos, em geral, não são lidos. E, se são lidos, não são compreendidos em sua integridade.

                - Um e-mail longo é desinteressante. A pessoa precisa ter o poder de concisão para falar o máximo possível em poucas palavras, e isso é implícito à linguagem digital – afirma o professor Luiz Castro.

                Regina sugere que as mensagens tentem girar em torno de três a quatro parágrafos, no máximo.

                - Se você começa a ver que o e-mail vai ficar longo demais, deve parar e se questionar se não deve ligar para a pessoa ou fazer uma reunião. Perde-se muito tempo com e-mails grandes. São complexos de responder e podem ser mal interpretados – diz.

                Deve-se evitar dizer em muitas palavras o que se poderia dizer em poucas.

10. A necessidade de revisão

Um texto de correio eletrônico deve ser simples, mas não descuidado. Exige releitura e atenção para acertar o tom da mensagem. O vocabulário deve fazer parte da linguagem usual, sem expressões rebuscadas que tornem a mensagem complicada. Mas é preciso estar atento à repetição exaustiva de termos, abreviações apressadas e construções truncadas.
                Revise as palavras, para detectar as mal colocadas; repasse os destinatários, principalmente se a mensagem pode ser reenviada a muitos deles; evite comentários agressivos, pois a mensagem enviada se torna pública.

Guerreiro, Carmen. In: Revista Língua, n. 87, 2013, p. 30-33.

terça-feira, 5 de março de 2013

Texto para discussão

O texto a seguir foi publicado na revista Metáfora e traz uma interessante aproximação entre uma forma narrativa emergente (os videogames) e a forma tradicional (literatura). 

O QUE OS VIDEOGAMES PODEM APRENDER COM A LITERATURA?

Embora a dinâmica interna dos jogos eletrônicos esteja em constante evolução, talvez ainda lhes faltem motivações mais profundas como as da arte literária

Uma parte importante da literatura consiste na arte da narrativa, a arte de contar histórias; um parentesco estrutural que ela tem com o cinema, o teatro, as histórias em quadrinhos, etc. Neste "etc." podem ser incluídos agora os videogames, universos narrativos em que há elementos comuns à literatura de ficção: ambientes, pessoas, enredo, peripécias, encadeamento de causa e efeito entre fatos sucedidos aos personagens. Onde quer que exista uma semelhança tão básica existe a possibilidade de cada uma dessas atividades dar alguma contribuição à outra.

Os videogames são em 2012 o que o cinema era em 1912: uma nova maneira de contar histórias, resultante da combinação de novas tecnologias, que gerou uma indústria gigantesca voltada para um público considerado imaturo e ávido por sensacionalismo. Em 1912 o cinema ainda não tinha um Chaplin, um Fritz Lang, um Griffith, um Eisenstein: artistas que não apenas revolucionaram a maneira de narrar como também trouxeram uma inesperada densidade humana, psicológica e social àquele espetáculo até então meio inconsequente. O cinema era uma diversão de quermesse, e aos olhos dos intelectuais da época seria assim eternamente.

Proliferação
 É possível que os "chaplins" do videogame já existam, difíceis de enxergar numa proliferação espantosa de indústrias, empresas, designers, plataformas, gêneros e subgêneros. Uma expansão que já faz a indústria dos games (e aqui estou incluindo todas as diferentes plataformas, com tipos tão diferentes quanto os games de console e os games de computador) rivalizar com a do cinema. Um jogo ansiosamente aguardado, de uma série de sucesso, como Call of Duty: Modern Warfare 3, vendeu o equivalente a US$ 400 milhões em seu primeiro dia de lançamento.

Os games têm recorrido a gêneros populares como o terror, o policial, a ficção científica, etc., mas sempre o fazem via cinema, via adaptação para a imagem. O que não impediu a criação, em 2009, de um game baseado na Divina Comédia, uma produção da Visceral Games, distribuída pela Electronic Arts, intitulada Dante's inferno. É um jogo de ação e aventura onde o poeta florentino é transformado num cavaleiro templário, e vai ao Inferno resgatar sua dama - mas cobrindo na porrada todos os monstros com que se defronta nas regiões abissais. Os mais puristas ficarão horrorizados, mas este é apenas um indício, entre muitos, de que a indústria de games se alimenta de: 1) narrativas arquetípicas, com ressonância no inconsciente coletivo; 2) narrativas situadas num passado mítico e remoto, e que tanto possa se alimentar à vontade das mitologias já existentes quanto inventar outras que lhe convenham; 3) narrativas onde exista algum tipo de quest, demanda, busca, aventura, missão - uma série de etapas a serem cumpridas até a última e mais importante delas.

Jogos são uma experiência imersiva, numa atividade continuada ao longo do tempo. Zerar um jogo leva muitos dias, mesmo jogando várias horas por dia. Neste sentido, um game se parece mais com um romance do que com um conto que se lê em uma ou duas horas. A experiência do game precisa do que chamamos "um universo", um ambiente suficientemente complexo para ter sua própria história, geografia, população, cultura, leis e costumes, flora, fauna, e tudo o mais. É um tipo de exigência que o game partilha com o romance. E onde os dois podem se beneficiar mutuamente. Gêneros não realistas como a fantasia heroica e a ficção científica são especialistas em criar universos assim, mas o romance histórico (incluindo a lenda, a epopeia historica) parece ser um caminho óbvio e inevitável para futuros games.

O livro Extra lives de Tom Bissell (2010) é uma crítica aos games feita por um gamemaníaco suficientemente distanciado para tocar em algumas questões básicas. Diz ele: "Games são produtos de entretenimento corporativo, criados por dúzias de pessoas, com uma grande expectativa de ganhar dinheiro. Eles têm muito mais inteligência formal ou estilística do que são capazes de utilizar; e não têm nem um traço de inteligência temática, emocional ou moral".

Inquietação
Quem diz isto é um fã confessos dos joguinhos; Bissell inicia seu livro contando com bom humor como perdeu a transmissão da vitória de Barack Obama na eleição para presidente dos EUA porque estava mergulhado em Fallout 3, que tinha chegado ao mercado poucos dias antes.

Uma inquietação difusa mas onipresente, no meio dos criadores de games, diz respeito a elementos de que a crítica e o público volta e meia estão se queixando, e que eu consideraria na fórmula: "Falta literatura". Falta (dizem eles) originalidade e espontaneidade nos diálogos. Falta profundidade psicológica nos personagens, tornando suas motivações mais complexas e suas ações menos previsíveis. Tanto a literatura quanto um game precisam dessa oscilação em que é impossível prever o que um personagem fará, mas depois que ele o faz a ação é plausível.

Bissell justifica essas carências com uma razão principal: "Um número desproporcional de designers de games hoje em atividade vem de um background de sistemas, programação ou engenharia, o que contribuiu para formar suas personalidades e interesses. Uma consequência disso é que os designers imaginam os games de dentro para fora: Que variável posso inserir no sistema para produzir um efeito interessante?". A dinâmica interna dos jogos está sendo criada com competência; o que lhes falta talvez seja justamente o detalhamento literário, as motivações profundas.
TAVARES, Bráulio. In: Metáfora, n. 2, 2012, p. 18-9.