quinta-feira, 9 de junho de 2011

TEXTO PARA DISCUSSÃO

O último desafio dos e-books

Até o lançamento do leitor digital Kindle, em 2007, a tarefa de substituir o livro de papel parecia destinada ao fracasso. Nos últimos anos, porém, o crescimento da venda de livros digitais tem surpreendido especialistas a ponto de ameaçar o reinado dos livros tradicionais. Na trajetória de sucesso dos e-books, o mês de abril representou um marco. Pela primeira vez, as vendas de livros digitais superaram as vendas de livros em formato brochura nos Estados Unidos.

Ao todo, os livros digitais renderam US$ 164 milhões a livrarias on-line como a Amazon, fabricante do Kindle. Além da brochura, os e-books também ficaram à frente dos livros de bolso e de capa dura, tornando-se o formato mais popular no país. Entre os motivos para o resultado, o relatório da Association of American Publishers cita o maior número de títulos e a popularização de leitores digitais como o Kindle, o iPad e o Nook. Os números positivos, aliados à queda de 25% nas vendas de livros de papel, sugerem um futuro em que as estantes nas casas e livrarias se tornarão obsoletas.

Para substituir completamente os livros de papel, porém, os e-books ainda precisam desbravar prateleiras intocadas pela febre digital: as de bibliotecas. Na última semana, atendendo a demandas de usuários, a Amazon anunciou uma parceria com 11 mil bibliotecas americanas para permitir empréstimos de livros digitais. A Amazon não dá detalhes sobre o funcionamento do sistema, mas afirma que ele deverá começar a funcionar ainda neste ano. A iniciativa é uma resposta ao Lendle, um site não oficial que permite aos usuários trocar livros digitais entre si por 14 dias. Em março, a Amazon bloqueou o serviço por “não aumentar as vendas de produtos e serviços”. Após protestos, os empréstimos foram restabelecidos.

O breve entrevero entre a Amazon e o Lendle mostra o desafio da nova etapa de popularização dos e-books. Pela primeira vez, a proliferação do livro digital pode ir de encontro aos interesses das livrarias on-line e editoras. Até agora, as vantagens oferecidas pela Amazon – conexão 3G para usuários do Kindle, download de amostras de livros e aplicativos gratuitos para várias plataformas – tinham o objetivo de aumentar as vendas de e-books, rumo à liderança.

No caso da parceria com as bibliotecas, o benefício comercial não é tão claro. Algumas editoras já impõem barreiras contratuais para empréstimos de seus livros. A Harper-Collins anunciou que seus e-books podem ser emprestados no máximo 26 vezes; depois disso, a biblioteca teria de comprar um novo exemplar. No mundo analógico, seria o equivalente a obrigar a biblioteca a descartar um livro e comprar outro após um certo número de empréstimos. Se distorções como essa não forem superadas, a biblioteca digital talvez nunca saia do papel.

VENTICINQUE, Danilo. Revista Época, n. 676, 2 maio 2011, p. 139.

Quase láEmbora sejam um sucesso, os e-books ainda não cumprem todas a funções de um livro de papel

VANTAGENS

DESVANTAGENS

Portabilidade

É possível ler o mesmo livro em vários lugares diferentes (no computador de casa, no trabalho, no celular) sem carregá-lo debaixo do braço

O fim da dedicatória

Para desespero dos fãs, é impossível autografar um e-book. Há aplicativos para contornar o problema, mas sem o valor das assinaturas físicas.

Anotações à vontade

É possível fazer anotações nos e-books sem pudores ou medo de deixar marcas. A versão mais recente do Kindle permite compartilhar as notas na internet.

Sem consulta

Até agora, não é possível pegar livros emprestados em bibliotecas nem acessar grandes acervos de livros ainda não digitalizados.

Preço

Além de custar menos que as edições de papel (de 15% a 20% em média), os livros e revistas digitais podem ser importados sem taxas ou frete.

Invendáveis

Se você não aguenta mais ver um e-book em sua estante digital, a única opção é deletá-lo. Não há como vendê-lo ou passá-lo para a frente.