terça-feira, 19 de agosto de 2014

Dicas para construir slides

Atualmente, as apresentações de trabalhos costumam ser acompanhadas da projeção de slides que sintetizam os tópicos principais do trabalho.
A consultora de relações humanas Cherie Kerr apresenta a seguir uma série de dicas para criar slides de maneira eficiente no PowerPoint para destacar, e não denegrir, uma apresentação oral. Confira.


De certa forma, a facilidade de uso do PowerPoint pode ser seu pior inimigo. Por mais simples e envolvente que seja criar slides e imagens cativantes, lembre-se de que o PowerPoint não funciona por conta própria. O público veio para ouvi-lo e não para fitar imagens projetadas na tela. Crie um ótimo programa de PowerPoint, mas não deixe que suas observações orais sejam menos atraentes. "O PowerPoint não faz apresentações — ele cria slides", afirma Matt Thornhill, presidente da Audience First, uma empresa de Midlothian, Va., que oferece treinamento em apresentações. "Lembre-se de que você está criando slides como apoio de uma apresentação oral".
Provavelmente já vimos apresentações de PowerPoint e outras em que o palestrante parece disposto a pedir o programa em casamento. Afinal, era óbvia a paixão por cada dobra, efeito especial e cada pedacinho de modernidade disponível. Mas as apresentações de PowerPoint mais eficazes são simples — gráficos de fácil compreensão e imagens que refletem a fala do orador. Alguns especialistas sugerem não mais do que cinco palavras por linha e não mais do que cinco linhas por slide. "Não deixe o trabalho ficar lotado de palavras e imagens", afirma Kerr. "Você precisa realmente mostrar tudo na tela?"
O grande atrativo do PowerPoint é sua capacidade de transmitir ideias e servir de apoio às observações do palestrante de forma concisa. Isso se torna difícil diante de uma grande quantidade de números e estatísticas. Em sua maioria, as apresentações de PowerPoint mais eficazes não oprimem os espectadores com excesso de valores e números. Deixe isso para uma etapa posterior, mais abrangente, através de apostilas distribuídas no final da apresentação. Se desejar enfatizar uma estatística no PowerPoint, considere o uso de um elemento gráfico ou imagem para transmitir a ideia. "Quando, por exemplo, certa vez, eu estava falando sobre a prevalência de pacientes com Alzheimer, usei a fotografia de uma senhora de idade, em vez de projetar números na tela", afirmou Kerr.
Um dos hábitos mais comuns e prejudiciais de usuários de PowerPoint é fazer uma leitura simples da apresentação visual para o público. Isso não só é redundante — exceto pelo uso do controle, qual o motivo da sua presença? — como transforma a mais linda apresentação em um tédio absoluto. O PowerPoint funciona melhor com observações orais que ampliam e discutem, em vez de reproduzir, o que está na tela. "Mesmo com o PowerPoint, você precisa de contato visual com o público", afirma Roberta Prescott, do The Prescott Group, uma empresa de consultoria de comunicações situada em Connecticut. "Essas pessoas não vieram ver sua nuca".
Outra armadilha potencial são os comentários do apresentador que coincidem precisamente com a apresentação de um novo slide do PowerPoint. Isso só divide a atenção do público. Um programa do PowerPoint bem planejado apresenta um novo slide, dá ao público a oportunidade de ler e digerir o material e, em seguida, permite a apresentação de comentários que ampliam a imagem na tela. "É uma questão de tempo", afirma Kerr. "Nunca fale junto com o slide".
Novamente, o PowerPoint é mais eficaz como acompanhamento visual do discurso oral. Usuários experientes do PowerPoint não se acanham em deixar a tela vazia de vez em quando. Isso não só permite um descanso visual, como também é eficaz para concentrar a atenção em trocas mais orais, como uma discussão em grupo ou sessão de perguntas e respostas.
Um contraste forte entre palavras, imagens e o fundo pode ser bastante eficaz na transmissão de mensagens e emoções.
8. Importe outras imagens e elementos gráficos.
Não limite a apresentação ao que o PowerPoint oferece. Use imagens e elementos gráficos externos para variar e atrair visualmente, inclusive vídeo. "Geralmente uso um ou dois videoclipes bem curtos nas minhas apresentações", afirma Ramon Ray, um consultor de tecnologia de Nova York. "Isso acrescenta humor, transmite uma mensagem e relaxa o público".
Algumas pessoas talvez discordem de mim neste aspecto. Mas nenhum orador quer falar para um público que está entretido lendo o resumo de seus comentários. A menos que o acompanhamento da apostila seja essencial para a apresentação, aguarde o término para distribuir o material.
Nunca perca a perspectiva do público. Depois de rascunhar seus slides do PowerPoint, revise seus comentários, fingindo ser um dos ouvintes. Se algo parecer desinteressante, dispersivo ou confuso, faça alterações. São grandes as chances da apresentação como um todo ficar melhor depois disso.
Fonte: http://www.microsoft.com/business/pt-br/Content/Paginas/article.aspx?cbcid=21.



terça-feira, 12 de agosto de 2014

Coesão e coerência textuais

O artigo reproduzido a seguir, publicado na Revista Língua Portuguesa, apresenta os conceitos de coesão e coerência textuais, importantes elementos para escrever bem.

Quando um texto se torna texto
Sem coesão e coerência, as frases perdem clareza e deixam de constituir um genuíno argumento

Por João Batista Vaz

Veja os enunciados:
a) Viajar Tiago ficam casa e férias em Carol adoram nas sempre eles.
b) Tiago e Carol adoram viajar. Eles sempre ficam em casa nas férias.

O enunciado (a) não é texto. Falta-lhe sequência linguística, um arranjo sintático-semântico, já que consiste em arranjos desconexos de palavras.
Em Introduction to Text Linguistic (Londres: Longman, 1981), R. Beaugrande e W. V. Dressler mostraram que um enunciado bem construído apresenta a chamada textualidade (tessitura), um conjunto de características que fazem de um texto um texto, e não sequência aleatória de frases.
Com base nisso, o enunciado (b) não é sequência de palavras desconexas. Ainda assim, há algo esquisito nele, que faz com que ainda não possamos considerá-lo um texto. Ou não? Um texto, para ser considerado texto, deve atender a todos os requisitos linguísticos, do ponto de vista fonológico ao sintático-semântico e cognitivo?

Coesão e coerência
Segundo Luiz Antônio Marcuschi, em Produção Textual, Análise de Gênero e Compreensão (São Paulo, Parábola, 2008:80), os aspectos responsáveis pela textualidade envolvem 2 fatores exclusivamente linguísticos e 5 linguísticos e extralinguísticos (aceitabilidade, informatividade, situacionalidade, intertextualidade, intencionalidade). Os fatores exclusivamente linguísticos são coesão e coerência.
A coesão refere-se à conexão, à íntima associação entre as palavras de um texto. Para M. A. Halliday e Rugaia Hasan (Cohesion in English, Londres: Longman, 1976), há cinco mecanismos de coesão: por referência, substituição, elipse, conjunção e pelo léxico. Como se vê no quadro [abaixo], o processo de coesão por referência é bem próximo do de coesão por substituição. E este está ligado ao de coesão por elipse, já que não passa de uma substituição mental (subentendido).



Já para Ingedore Koch (A Coesão Textual, São Paulo: Contexto, 1993), tudo isso equivale a duas modalidades de coesão: referencial e sequencial [quadro a seguir].



Coerência
A coerência envolve fatores lógico-semânticos e cognitivos, já que a capacidade de um texto ser interpretado depende do conhecimento partilhado entre os interlocutores. Marcuschi mostra, por isso, que a coerência não é propriedade do texto em si, mas um trabalho do leitor sobre as possibilidades interpretativas do texto. Ressalta, porém, que o texto deve permitir o acesso à coerência; caso contrário, não há possibilidade de entendimento. A coerência está mais na mente do leitor e no ponto de vista do receptor do que no interior do enunciado (Marcuschi, 2008: 79-80).
Criar textos envolve, portanto, a noção de coerência (harmonização de ideias, fatos e argumentos) e a de coesão (ligação, conexão, íntima associação entre as palavras de um texto).
A coesão busca dar sentido e entendimento ao texto, já que é ela a responsável em fornecer a coerência, quando esta não pode ser deduzida. 
Retomemos o exemplo (b). É possível retirar a incoerência com o uso, por exemplo, da coesão por conjunção ou da sequencial, e com um acréscimo conceitual (progressão):
"Tiago e Carol adoram viajar, mas eles sempre ficam em casa nas férias, pois não sobra dinheiro para viagens."
No exemplo reformulado, a coesão contribui para dar sentido e entendimento ao texto. É mecanismo auxiliar da coerência. Assim, (b) não pode ser considerado um texto, pois lhe falta coerência, um requisito lógico-semântico e cognitivo. Reformulado, torna-se um texto devidamente construído.




VAZ, João Batista. In: Língua Portuguesa, n. 105, jul. 2014. p. 38-40.