segunda-feira, 31 de maio de 2010

QUALIDADES E DEFEITOS DO TEXTO (1)

No texto a seguir, alguns termos foram grifados e certas expressões foram sublinhadas. Dê o significado das palavras negritadas no texto e justifique gramaticalmente o emprego das palavras e/ou expressões sublinhadas.

CINCO PRAGAS DA REDAÇÃO EMPRESARIAL[1]

Maria Helena da Nóbrega[2]

A redação empresarial possibilita a formalização escrita das atividades desenvolvidas nas instituições comerciais. Trata-se do registro formal da correspondência interna e externa ou do relato de uma situação profissional. Assim, comunicados, memorandos, cartas comerciais, relatórios etc., se bem escritos, fornecem um histórico de suma importância para as empresas, seja para resgatar etapas de um negócio efetivado com sucesso, seja para analisar por que determinada proposta não foi bem sucedida.

Se mal elaborada, a redação comercial não persuade. Propostas ambíguas levam a maior desperdício de tempo, para tentar entender a mensagem. Como a maioria não dispõe de tempo para decifrar textos intrincados, perdem-se negócios. Se a incomunicabilidade redacional se mantiver, haverá perda de credibilidade, ou seja, não haverá fidelização dos clientes ou consumidores, que terão uma predisposição ao descaso em relação a todas as mensagens veiculadas pela empresa.

Empresas de renome sabem da importância de ter funcionários com habilidades comunicacionais bem alicerçadas. Por isso cada vez mais solicitam redação nos processos de seleção. Elas procuram quem sabe se comunicar bem, pois esses funcionários irão representá-las e ajudarão a criar uma imagem positiva da empresa.

Como escrever

Os textos comerciais obedecem a uma unificação redacional que facilita a comunicação entre as empresas. No entanto, é preciso observar que essa padronização sofreu alterações simplificadoras. Para se ter uma ideia, a finalização dos textos oficiais, regulada em 1937, apresentava 15 padrões. Hoje, duas fórmulas de despedida. Apesar disso, a permanência de entulhos linguísticos, em alguns textos, ainda atrapalha a rapidez nos negócios.

Em meados dos anos 1980, quando a disputa de mercado passa a ser mais acirrada, as empresas tentam criar algum diferencial que permita sobreviver e ampliar os negócios. Nesse momento há uma atualização do estilo e da linguagem da correspondência empresarial. Essa modernização é notada não apenas na linguagem verbal, mas também no ambiente das corporações.

Há empresas que adotam um dia em que o terno e o tailleur ficam em casa, e os profissionais podem vestir-se em estilo casual para ir trabalhar. Como a roupa é linguagem, tal concessão revela a criação de um ambiente que se expandirá para outras linguagens – as relações entre os colegas ficam menos distantes, as horas de lazer são valorizadas,o poder das decisões sai do eixo vertical e passa a ser mais horizontalizado. Do mesmo modo, essas alterações invadem a esfera da linguagem verbal e renovam o texto empresarial.

Concisão e clareza

A redação empresarial prioriza o estilo conciso e claro. A concisão é necessária pela rapidez das informações. Não há tempo a perder, sobretudo no mundo dos negócios. A clareza impõe-se pela obrigatoriedade de dados precisos, estruturas textuais coesas e coerentes, processos argumentativos persuasivos. Um contrato não será assinado se não houver clareza nas cláusulas propostas. Da mesma forma, investimento financeiro será concedido só se a argumentação for convincente.

O texto comercial atual dá preferência a vocabulário simples, usual, sem expressões herméticas que tentam mostrar erudição, mas dificultam a compreensão. Porém, simplificação vocabular não significa repetição excessiva de certas palavras. É preciso, portanto, que o empresário tenha o hábito da leitura, para transitar sem tropeços pelos sinônimos de que a língua dispõe. Além disso, ele deve familiarizar-se também com expressões próprias do meio empresarial e com os termos teóricos da sua área de atuação. Sem isso, o texto transmitirá amadorismo e fragilizará qualquer proposta profissional.

Hábito de leitura

Tropeços redacionais como os exemplificados nestas páginas são mais facilmente eliminados quando se tem o hábito de leitura de textos bem escritos. Como a redação da correspondência empresarial demanda rapidez, convém redobrar a leitura de livros específicos da área do profissional e outros, pois essa atitude trará ampliação do vocabulário, o que facilitará a redação de textos coesos e coerentes.

Acrescente-se a isso particularidades da redação do texto, que deve ser impessoal. A clareza e concisão serão fundamentais na composição da mensagem. A linguagem deve ser culta, ou seja, adequadamente formal. Sem sofisticações desnecessárias – vocabulário simples, mas não vulgar.

Vale a pena consultar o Manual de Redação da Presidência da República (2ª. edição, 2002), que atualiza e uniformiza as normas de redação oficiais. Encontrado no site: www.presidencia.gov.br

A PRAGA DOS CHAVÕES

Na busca de arejamento do texto, dispensam-se chavões e expressões em desuso, que apenas ampliam os caracteres do texto, mas nada acrescentam à mensagem. Eis alguns exemplos de sugestões redacionais:

Em vez de

Use

Acusamos o recebimento de...

Recebemos...

Levamos ao seu conhecimento...

[entrar diretamente no assunto]

Outrossim/Esclarecemos outrossim...

Ainda... OU Também...

Sem mais/Sem mais para o momento/ Sem outro particular/ Sendo o que se nos oferece para o momento...

Atenciosamente

Temos em mãos sua carta...

[entrar diretamente no assunto]

Vimos pela presente/ Vimos por meio desta...

[entrar diretamente no assunto]

A PRAGA DAS REDUNDÂNCIAS

O ritmo acelerado da leitura, bem como a necessidade de objetividade, exige que não apareçam tautologias, afinal, escrever a mesma coisa com outras palavras apenas tomaria mais tempo do (quase sempre) apressado leitor. Assim, deve-se prestar atenção em algumas expressões usuais, mas cuja tautologia não se justifica:

Em vez de

Use

A seu critério pessoal

A seu critério

Comparecer em pessoa

Comparecer

Encarar de frente

Encarar

Inteiramente à disposição

À disposição

Interromper de uma vez

Interromper

Nos dias 20, 21 e 22 inclusive

Nos dias 20, 21 e 22

Planejar antecipadamente

Planejar

Repetir outra vez

Repetir

Retornar de novo

Retornar

Surpresa inesperada

Surpresa

Última versão definitiva

Versão definitiva

Primeira prioridade

Prioridade

Há dez anos atrás

Há dez anos OU Dez anos atrás

A PRAGA DAS PALAVRAS EM EXCESSO

A mesma busca de concisão requer que se evitem circunlóquios ou perífrases, ou seja, dizer em muitas palavras o que se poderia dizer em poucas, como nos exemplos abaixo.

Em vez de

Use

Chegar a uma conclusão

Concluir

Chegar a uma decisão

Decidir

Conduzir uma investigação a respeito

Investigar

Fazer um exame

Examinar

Levar a efeito um estudo

Estudar

Levar a efeito uma tentativa

Tentar

A FALTA DA PADRONIZAÇÃO

No tocante à data, para não iniciar o texto com desvios, convém lembrar que o nome dos meses deve ser grafado em letra minúscula. Se o número que indica o dia do mês for composto de apenas um dígito, não se coloca zero antes dele (7, e não 07). Além disso, no ano não há ponto depois do milhar. Portanto: São Paulo, 3 de novembro de 2008.

Para a saudação final do destinatário, padronizaram-se dois fechos:

a) para autoridades superiores à do remetente: “Respeitosamente,”;

b) Para autoridades da mesma hierarquia ou de hierarquia inferior à do remetente: “Atenciosamente,”.

Todos os textos devem trazer o nome e o cargo do remetente. Não se usa mais colocar traço no local onde a pessoa assinará. Portanto:

(espaço para assinatura)

Sérgio de Abreu

Chefe da Seção

A PRAGA DO TRATAMENTO

No endereçamento, pode-se adotar Senhor ou Senhora e “fica dispensado o emprego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares”, conforme o Manual de Redação da Presidência da República (2002, p. 10). Como exemplos:

À Senhora Professora Senhor Diretor do Departamento de Publicidade

Roseli Cunha José de Camargo

A preposição e o artigo (À ou Ao) é facultativa (pode aparecer ou não).

Se o documento for encaminhado a autoridades, deve-se usar a fórmula de tratamento e a invocação pertinentes ao cargo, como na tabela deste quadro.

Em caso de dúvida, a consulta a uma gramática resolverá o problema.

FÓRMULAS DE TRATAMENTO RECOMENDÁVEIS

Cargo

Fórmula

Invocação

Embaixador

Excelência

Exmo. Sr.

Ministro

Excelência

Exmo. Sr. Ministro

Reitor

Magnificência (Magnífico Reitor)

Exmo. Sr. Reitor



[1] Texto originalmente publicado na Revista Língua Portuguesa, n. 38, dez 2008.

[2] Professora do Departamento de Letras Clássicas e vernáculas da USP. Autora de Estratégias de comunicação em grupo.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

TEXTO PARA DISCUSSÃO

LER FAZ DIFERENÇA NO MERCADO DE TRABALHO

Profissionais que falam bem e cometem poucos erros ao escrever têm mais chances de conquistar uma vaga

Lendo pouco, escrevendo mal e se expressando com deficiência ou muitas gírias, profissionais de qualquer nível encontrarão dificuldades de entrar ou crescer no mercado de trabalho. Problemas nesses três pilares – leitura, fala e escrita – são critérios de seleção que muitas vezes não estão explícitos, mas que podem ser usados para diferenciar, e escolher, um ou outro candidato.

Uma situação vivida pela gerente comercial da agência de recrutamento Performance, Vera Garcia, ilustra o cenário. Uma mensagem enviada por e-mail, recheada de erros de português, acendeu o alarme em um dos clientes de Vera. A empresa pediu os comprovantes de escolaridade do funcionário em questão. Para espanto de todos, o colaborador – temporário – realmente tinha curso superior, bacharelado em engenharia.

Se os documentos fossem falsos, talvez todos estivessem mais aliviados. A falcatrua seria uma explicação menos chocante para os erros de grafia do executivo:

- O ensino é muito precário e os executivos, mesmo com diploma universitário, têm dificuldade. Na escrita, é um caos – diz Vera.

O domínio de português dos trabalhadores não está mais baixo em relação a anos passados, opinam especialistas. O consenso é de que os brasileiros escrevem e falam mal como sempre, mas os crimes contra a língua estão aparecendo cada vez mais nas empresas devido à disseminação dos meios eletrônicos de comunicação.

- As pessoas erram feio. É estarrecedor – avalia Augusto Costa, diretor geral da Manpower do Brasil.

O antídoto para o problema é unânime: mais leitura. Eventos como a Feira do Livro [...] são oportunidades para quem precisa estimular o hábito, independentemente da classe econômica, idade ou profissão.

- De modo geral, a gente vê deficiências muito grandes nesta área – lamenta a professora de português da Pontifícia Universidade Católica do Estado e da Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Marisa Smith.

(Alexandre de Santi. Zero Hora, 5 nov. 2006.)

Como melhorar o português

1. Cursos

Podem ajudar a relembrar as regras, mas é importante adquirir o hábito de escrever e ler para gravar como as leis da língua são utilizadas na prática. São raros, porém, os cursos gratuitos. As secretarias estaduais de Educação e Cultura, por exemplo, não souberam indicar nenhum curso de graça no Estado.

2. Hábito de leitura

É consenso que os livros ajudam a reforçar como escrever o bom português e melhorar o raciocínio. Há muitas livrarias na cidade, mas comprar livros pode ser um costume caro. Lembre-se de que sempre é possível pegar livros emprestados ou trocar um exemplar já lido com um amigo. E o sistema estadual de bibliotecas públicas está aberto para fornecer literatura com baixo custo. O Rio Grande do Sul possui 516 bibliotecas públicas.

3. Ler (e reler) o próprio texto

Muitos candidatos são descartados das entrevistas de emprego ainda na fase de seleção porque há erros de grafia nos currículos.

- Erro de português no currículo é imperdoável – diz Augusto Costa, diretor da Manpower, agência de recrutamento.

É importante reler aquilo que foi escrito com paciência. Nesta hora, surgem dúvidas sobre como escrever uma determinada palavra ou conjugar um verbo. Buscar a resposta é um excelente método de manter vivas as regras na cabeça.

4. Saber diferenciar gírias da linguagem culta

Um importante recado para os jovens. O ambiente empresarial aceita apenas a norma culta do português. Gírias devem ser utilizadas só na conversa entre amigos. Com a popularização da linguagem simplificada da internet, muitos jovens levam os neologismos para mensagens de trabalho – e este é um erro.

Segundo os recrutadores, muitas vezes os candidatos são testados, sem perceber, levados a dizer palavras com pronúncia considerada difícil, como “problema”, para saber se o postulante conhece bem a língua portuguesa.

5. Hábito da escrita correta

O e-mail e os comunicadores instantâneos da Internet estão levando mais pessoas a utilizar a escrita diariamente. Alguns não percebem, mas escrever corretamente nestes ambientes é uma boa maneira de adquirir o costume de prestar atenção no bom português.

Fonte: Zero Hora.


segunda-feira, 17 de maio de 2010

ARGUMENTAÇÃO

Observe, agora, o trecho a seguir.

Nada me impressiona mais nos Estados Unidos do que a revolução da informação. Nenhuma comunidade do planeta tem tanto acesso a qualquer tipo de dado: à frente de um computador, um aposentado de uma pequena cidade do interior, por exemplo, é capaz de salvar a própria vida consultando um médico on-line.

Por isso mesmo, poucas coisas me impressionam mais do que o nível de ignorância no país. O governo federal está colocando, agora, essa ignorância em números – e também está chocado. Um teste nacional sobre história americana, aplicado a 22 mil alunos, acaba de recolher um monumental besteirol. Talvez porque as escolas sejam ruins; talvez porque os pais não se sintam educadores; ou talvez porque eles passem muito tempo na frente da televisão assistindo a lixo – exatamente como no Brasil. [...]

Claro que o Brasil não é exceção. Uma pesquisa DataFolha revela as seguintes pérolas de paulistanos acima de 16 anos: 61% não sabem qual é a capital do Rio Grande do Sul; 18% apontaram o México como país vizinho; 92% não sabem dizer quantos estados tem o país. Esses fatos apenas mostram que não se deve cair na armadilha do deslumbramento tecnológico; de pouco adianta gerar informação sem conhecimento crítico do mundo em que se vive. O que isso gera, de fato, é a ignorância informatizada.

Gilberto Dimenstein, Aprendiz do Futuro – Cidadania hoje e amanhã. Ática, 1997.

Você deve ter percebido uma diferença em relação ao exemplo da exposição: o texto acima não se limita a expor uma ideia, ele procura convencer o leitor a respeito dela. Que ideia é essa? A de que não basta ter acesso à informação, é preciso saber o que fazer com ela, isto é, gerar conhecimento a partir delas. E para convencer o leitor disso, o texto lança mão de determinadas estratégias, como a apresentação de exemplos, dados estatísticos. O autor, portanto, apresenta argumentos para persuadir o leitor de que sua visão sobre algo é verdadeira. Temos um texto argumentativo.

Desde a Antiguidade, diversos estudos têm destacado que a interação social por meio da língua é caracterizada, basicamente, pela argumentatividade. Argumentar é um processo que consiste em explanar, interpretar, ordenar, justificar, relacionar ideias. Através dessas operações, o argumentador busca formar a opinião do leitor/ouvinte, convencê-lo a aderir a um determinado ponto de vista, a tomar partido em um conflito ou escolher um curso particular de ação.

Encontra-se esse procedimento argumentativo em textos que buscam a persuasão, o convencimento, a adesão de quem lê/ouve. A argumentação é um discurso de base que fundamenta textos nos quais se apresenta uma tese que o autor deseja que o leitor/ouvinte aceite. Textos publicitários, matérias opinativas e editoriais, cartas de leitores, entre outros tipos de textos que circulam no meio social, são construídos em torno da exposição de uma tese – a ideia a ser compartilhada – e da apresentação de argumentos que levem o interlocutor a aceitar o posicionamento de quem produz o texto ou a realizar determinada ação.

Para a produção de um bom texto argumentativo, é condição básica a apresentação clara de uma tese e a sua fundamentação através de argumentos necessários e suficientes para o engajamento do leitor/ouvinte. Para convencer, o escritor deve deixar clara qual é a sua opinião. A construção do texto deve, explícita ou implicitamente, evidenciar qual a posição tomada em relação ao tema abordado.

Outro aspecto importante que deve ser considerado na construção de um texto argumentativo é evitar as generalizações, afinal, é sempre melhor mostrar do que simplesmente declarar. É necessário também que o texto apresente de fato argumentos. Conforme Othon M. Garcia[1], “argumentar é, em última análise, convencer ou tentar convencer mediante a apresentação de razões, em face da evidência, das provas e à luz de um raciocínio coerente e consistente.” (1988, p. 370)

Assim, os argumentos constituem as “provas” de que o produtor provê seu texto para persuadir da exatidão e pertinência de sua tese. Por provas entende-se a apresentação de fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos, apresentação de causas e consequências, recursos que constituem a evidência do que se declara.

Linguisticamente, o texto argumentativo caracteriza-se pela:

ü progressão lógica de idéias e linguagem objetiva, denotativa;

ü presença de palavras valorativas (positivas e negativas) e expressões modalizadoras que manifestam o posicionamento do falante;

ü emprego de orações subordinadas adverbiais causais, introduzidas pelas conjunções visto que, pois, porque, para a apresentação da relação de causa-consequência;

ü emprego de perguntas retóricas, antecipando possíveis questionamentos por parte do interlocutor;

ü presença de várias vozes que se integram ao texto por meio de citações, menções e/ou referências textuais, funcionando como apoio para a argumentação, e os sinais de pontuação que introduzem tais vozes (dois-pontos, aspas, travessões).



[1] GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna. 14. ed. Rio de janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988.

EXPOSIÇÃO ou EXPLICAÇÃO

Veja como o seguinte texto está organizado.

Celular pode explodir posto de gasolina?

A lenda diz que ligar ou desligar o telefone no posto emite eletricidade estática e pode mandar tudo pelos ares. Isso surgiu numa corrente de e-mail ainda nos anos 1990 (tem no Google). Sim, eletricidade estática pode colocar líquidos inflamáveis em combustão, mas celulares não emitem quantidade suficiente. Por outro lado, há baterias defeituosas que podem causar incêndios [...].

Galileu, n. 204, jul. 2008, p. 14.

Não há, no texto acima, nem o relato de um fato, nem a apresentação das características de um ser ou objeto. O que é feito é a explicitação das relações entre emissão de eletricidade estática e a combustão de líquidos inflamáveis, ou melhor, os possíveis efeitos nocivos desse tipo de associação. Portanto, o texto é essencialmente explicativo.

Esse discurso de base é encontrado em textos cuja intenção principal é apresentar, explicar ideias e conceitos. Informa-se o leitor ou ouvinte sobre determinado tema, uma nova linguagem de programação, por exemplo. Esse tema será apresentado através de definições, comparações, contrastes, analogias. Aqui, o autor do texto possui um saber que quer compartilhar, tornar coletivo.

O conteúdo dos textos de base expositiva centra-se no referente. Por definição, incluem-se nessa categoria os textos impessoais, objetivos, cuja intenção é levar ao conhecimento do leitor informações “puras”.

Em princípio, o texto de base expositiva caracteriza-se por não ser marcado em relação à presença nem do autor nem do leitor. Essa neutralidade, no entanto, é intencional, é o resultado do esforço do autor de imprimir ao seu texto um efeito de objetividade.

Além disso, o objetivo desse tipo de texto, aparentemente, não é veicular o ponto de vista de um indivíduo sobre a realidade, mas destacar o conteúdo das afirmações feitas. Porém, é importante ter sempre em mente que isso é um efeito de discurso, porque expor ideias, quaisquer que sejam, envolve tomadas de posição (nunca se tem a coisa em si, mas como ela é vista por alguém).

Linguisticamente, textos expositivos apresentam marcas como:

ü distanciamento do falante em relação àquilo que fala, resultando num texto objetivo, escrito, geralmente, em terceira pessoa;

ü predicados organizados em torno de verbos como ser, ter, conter, consistir, compreender, indicar, significar, constituir, denominar, designar;

ü sinais de pontuação que introduzem explicações ou citações (dois-pontos, parênteses, aspas, duplo travessão);

ü orações explicativas introduzidas pelas conjunções pois e porque;

ü marcas de comparação (assim, igualmente, como, da mesma maneira que, ao contrário de);

ü expressões de reiteração e reformulação (isto é, ou seja, melhor dizendo, em outras palavras);

ü emprego de exemplificações (por exemplo, como é o caso de);

ü emprego de definições, ressaltando o significado de palavras ou expressões;

ü emprego de expressões organizadoras (em resumo, até aqui, como já foi falado) e ordenadoras de informação (em primeiro lugar, em segundo lugar, por um lado, por outro).

Em geral, a exposição é encontrada em resumos, textos de divulgação científica, livros técnicos, anotações, definições, ensaios, manuais didáticos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Atividade

(UEPB - Adaptada) Leia o texto a seguir para responder as perguntas.

“Siga os passos abaixo, grave sua música em formato Mp3 e lance-a na internet. Depois, é só esperar pelo mais difícil: ver a canção destacar-se entre os milhões que já se encontram na rede.

I. Transfira a música para seu computador – Com o programa Windows Media Player, para PC, ou com o QuickTime, para Mac, você pode gravar na placa de som do computador uma música registrada em fita cassette. A qualidade, nesse caso, deixa a desejar. O resultado é melhor quando a gravação é feita a partir de um CD. Basta ligar o equipamento de som ao computador e utilizar um tipo de programa conhecido como ripper para transferir a música para a placa.

II. Converta seus arquivos para o formato Mp3 – Os programas que transformam os arquivos sonoros do computador para o formato Mp3 são chamados de encoders e são autoexplicativos. Muitos são obtidos gratuitamente na própria rede.

III. Distribua suas músicas em Mp3 – Você pode criar a sua página na internet e nela colocar os arquivos Mp3. Ou deixar disponíveis as músicas em sites como o Mp3.com (www.mp3.com) ou central Mp3 (www.centralmp3.com.br).”

1. O texto é narrativo, descritivo ou injuntivo?

2. Identifique, no texto, os elementos linguísticos que justificam a resposta dada à questão anterior.

INSTRUÇÃO ou INJUNÇÃO

Repare no texto que segue.

Proposta A

Trabalhe sua dissertação a partir do seguinte recorte temático:

A permanente reconfiguração do rádio, com suas mudanças na forma de transmissão e de recepção, mostra-nos a força desse meio de informação, divulgação, entretenimento e contato.

Instruções:

Discuta o rádio como meio de difusão e aproximação;

Argumente no sentido de demonstrar sua atualidade;

Explore argumentos que destaquem as várias formas de sua presença na sociedade.

Adaptado de “Proposta de redação da UNICAMP”

apud NICOLA, José de. Português. v. 2. São Paulo: Scipione, 2005. p. 175.

Perceba que o texto apresenta passos que devem ser seguidos para a realização de uma tarefa: a construção de uma dissertação. Esse “caráter” instrucional é bastante evidente com o uso de verbos no imperativo: “trabalhe”, “discuta”, “argumente”, “explore”. Tal aspecto configura o que denominamos textos instrucionais ou injuntivos.

No texto injuntivo, o conteúdo é sempre algo a ser feito e/ou como ser feito, uma ou várias ações ou fatos e fenômenos cuja realização é pretendida por alguém. A injunção se caracteriza primordialmente por apresentar um verbo no imperativo (injuntivo é sinônimo de “obrigatório”, “imperativo”).

Contudo, em alguns textos, as sequências que realizam esse tipo textual podem sofrer alterações, assumindo outra forma, como, por exemplo, quando o imperativo é substituído por um modalizador, como “deve” ou quando se utilizam formas verbais no infinitivo. Independentemente disso, é possível reconhecer que um texto é predominantemente planificado por sequência injuntiva ao se admitir que ele incita o cumprimento escrupuloso de diferentes etapas, cronologicamente ordenadas, de execução de uma ação.

Segundo Jean Paul Bronckart[1], as sequências injuntivas “são sustentadas por um objetivo próprio ou autônomo: o agente produtor visa a fazer agir o destinatário de um certo modo ou em uma determinada direção” (1999, p. 237). Logo, constata-se que a escolha desse tipo de sequência se dá em virtude de uma intenção, por parte do autor, de possibilitar ao interlocutor a oportunidade de adquirir um determinado conhecimento sobre como executar uma dada tarefa.

Assim, a produção de um texto de cunho injuntivo parte de um pressuposto do autor: que o seu interlocutor quer (ou, pelo menos, aceita e está apto para) realizar uma determinada ação. Caberá, então, ao autor do texto, que deverá deter o conhecimento necessário para isso, ensinar/orientar o seu interlocutor sobre como deve realizar a ação pretendida.

Desse modo, tendo em vista o objetivo principal a ser alcançado, o autor apresenta uma série de comandos, que constituem um plano de ação, visando atingir tal objetivo.

Gramaticalmente, algumas marcas dos textos injuntivos são:

ü verbos no imperativo;

ü formas verbais que indicam ordem, orientação, pedido, como dever + infinitivo, ter que/de + infinitivo, gerúndio, infinitivo, etc.;

ü advérbios de modo;

ü advérbio de negação;

ü explicitação do interlocutor por meio do vocativo;

ü emprego de expressões como (é) proibido, não é permitido, (é) obrigatório, etc.

São exemplos de gêneros em que predomina o discurso de base injuntiva: propaganda, receita culinária (modo de fazer), manual de instruções de equipamentos, horóscopo, livros de autoajuda.



[1] BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discurso: por um

interacionismo sócio-discursivo. Trad. de Anna Rachel Machado, Péricles Cunha.

São Paulo: EDUC, 1999.